quinta-feira, 9 de julho de 2020

"Onde o eco se acende e apaga", Aldeia da Luz - Mourão, Alentejo, 2017


Resultado de uma Residência Artística no Museu da Luz, da aldeia da Luz em Mourão, em 2017.
O projecto assentou na criação de uma instalação efémera, com a duração de um entardecer/noite, no território envolvente da aldeia e museu da luz.

A ideia foi utilizar o fogo vivo como luz que integra e transforma a paisagem única, silenciosa e intemporal que envolve esta pequena aldeia alentejana. Conhecida pela sua especial escuridão nocturna (magnifica para a observação dos astros) pretendeu-se manipular a realidade através da luz do fogo, numa efabulação da paisagem, evocando memórias, identidades e intemporalidades - uma "oração" terrena e simbólica à paisagem e aos seus habitantes através da Arte.

Na evocação de imagens, memórias e vivências pretendeu-se celebrar e representar a beleza misteriosa, pura e luminosa do fogo. A memória é assim recontextualizada e recriada em território que permita poetizar a presença da luz que este elemento primordial emana, relembrando algumas direcções, caminhos ou pontos de referência da antiga aldeia hoje submersa. É numa certa suspensão de tempo que esta instalação apresenta - uma reflexão, celebração e silêncio.

A instalação contou com três momentos sequenciais: a) nos espaços do Museu da Luz, com um conjunto de desenhos e uma instalação evocativa da intervenção principal desta proposta, b) no Monte dos pássaros, antigo monte alentejano e não submerso pela subida das  águas da barragem de Alqueva, c) nas águas do lago artificial de Alqueva que banha a aldeia da Luz.

Fotografia: Elizabeth Alvarez

Fotografia: Elizabeth Alvarez

Fotografia: Fernando Alves

Fotografia: Fernando Alves

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire

Fotografia: Cláudia Freire



Desenhos







quinta-feira, 28 de maio de 2015

"Sobre o branco o tempo poisa", Castro Marim, Algarve, 2015


Integrado no Projecto Algarve: percursos de mar e montanha, esta proposta apresenta-se como uma instalação efémera que pretende ocupar espaços não conectados com o universo da arte contemporânea - contexto natural ou arquitectónico da paisagem algarvia.  
A principal componente plástica desta intervenção seria a utilização única e exclusivamente do ingrediente SAL, extraído manualmente das salinas de Castro Marim. A descontextualização do material é de extrema importância, uma vez que é o impacto da presença deste material em lugar ou lugares não associados à sua presença, que o dotará de uma energia própria e invulgar. Desta forma, pretende-se acrescentar um sentido imagético misterioso, interrogativo e surpreendente que constituirá a força e frescura desta instalação artística. 
Nesta instalação, o branco é Luz - reflectida e evocativa - é mar, é vida, é morte. É sobre o branco que o tempo poisa. É nesta suspensão de tempo que esta instalação se apresenta como reflexão, celebração e silêncio. 


Instalação na Igreja do Castelo de Castro Marim 
(sal marinho)











Instalação na ruína da Casa do Governador - Castelo de Castro Marim 
(sal marinho, 6 toneladas aproximadamente)











Residência artística, 2015






desenhos evocativos sobre papel, 2015











 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Ressonâncias", exposição de Desenho, Festival Interferências - Lisboa 2012



Fotografia . André Cunha e Silva

A Singularidade do Múltiplo é um evento que decorre no âmbito do Interferências – Mostra Pública de Arte, organizado pela Associação Número Arte e Cultura em parceria com o Espaços do Desenho e desenvolvido em co-produção e residência artística com o Centro Português de Serigrafia, a Galeria Corrente d’Arte e o Metropolitano de Lisboa.


artistas convidados: Martinha Maia, Marta Wengorovius, Sara Yan, Susana Gaudêncio, Carlos Farinha e João Pedro Silva
Comissária: Teresa Carneiro

Mostra de trabalhos nas carrugens do Metropolitano de Lisboa











 
 
Mostra de intervenções em ‘lugares perdidos’ nas estações do Metropolitano de Lisboa
Estação de Metro dos ANJOS (átrio norte)















Texto Crítico de Maria do Carmo Serén


Interferências


Se quisermos encontrar um ponto comum, (esses traços pessoais que fazem um complexo ou um estilo) na instalação daquele rio de papel de seda, nos Anjos, as séries de desenhos das “Interferências” ou, se formos mais longe, as esculturas de vidro semeadas por João Pedro Silva em terreno vivo, torna-se claro que o padrão director é a expressão de uma tensão minuciosamente imprimida à matéria.
Trata-se, evidentemente, de experimentações muito contemporâneas, num conceito de fazer agir, agindo, desarticulando olhares, deslocando.
O rio de papel azul forte, pontuado de roxo nos momentos de turbilhão maior , irrompe a partir de uma fonte ocultada, corre sob uma rectângulo estreito de compressão para nós, ameaçando galgar a janela que o suporta; o vidro força-lhe a direcção e navega, livre, para lá dos espelhos mais reais que o mundo de Alice.  Pequenas ondas picadas, trabalho laborioso no papel ingrato, lembram o movimento caótico das águas quando envolvendo obstáculos: repetem-se, invertidas nos espelhos, arrastando consigo os labirintos de um existir simulado.

Interferências são círculos negros concentracionários, metafórico Sol Invictus louvado a 25 de Dezembro: fonte de atracção e repulsa, gera e repudia exércitos metálicos, vermes serpentiformes, o céu azul de todos os horizontes ou as formas que a racionalidade sabe traçar em afã de subordinação. O Sol negro absorve e expele, respira toda a matéria do mundo. O processo decorre na nossa frente,  os efeitos são cicatrizes na nossa observação e nas serigrafias.
Apesar das mudanças de registo, das variantes sempre apaziguadoras – o círculo, o rectângulo, o fragmento de recta – o caos enquadrado das inscrições, tudo se abre numa violência armadilhada. E é essa violência subliminar, segregada pelo círculo, que lhe retira a natural dinâmica de círculo. Ele é o ponto fixo criador do turbilhão da destruição e do nada. O que poderia ser, em qualquer caso, uma metáfora da artificialidade da técnica e do duplo.

Maria do Carmo Serén, 16 Março, 2012



Fotografia . André Cunha e Silva


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Presenças, Ausências" exposição no Núcleo Museológico do Sal - Figueira da Foz 2009

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1.



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4.



5.




6.

1. Passagem, 2008
(125 peças)
vidro puxado

2. Duas colunas, 2007
(altura aprox. 230cm)
vidro soprado

3. Sem título, 2006
(diâmetro aprox. 50cm)
vidro soprado

4. Frágil Gesto de Alegria II, 2009
(altura aprox. 210cm)
vidro soprado

5. Sem título, 2007
(altura aprox. 100cm)
vidro soprado

6. Sem título, 2006
(altura aprox. 220cm)
vidro soprado


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Texto Crítico de Maria do Carmo Serén


Por vezes a luz, que incide a direito como uma obrigação, esclarece recantos inesperados, invade superfícies de gelo ou de água solta, torneia gotas de chuva ou de orvalho, um traço, um gume, um obstáculo. E faz o mundo melhor.


É esse saber que dá sentido a estas esculturas de vidro, que recebem a luz e a refractam, introduzindo alternativas inesperadas num contexto reconhecido. E assim, João Pedro delineia uma retórica visual que sustém o esquecimento. É esse o papel da estranheza e o estatuto da diferença, interrogar o mundo em nós pelo caminho da fascinação. Procurar a nomeação.
São esculturas deliberadamente frágeis, deliberadamente efémeras e matriciais. Como a luz, a transparência que interpretam. E só aí, nessa transposição de uma ideia de aparição, participam de um qualquer Conceptualismo. Modulares, prestam-se aos desvios da imaginação, a jogos múltiplos de simulação. A sua maior estranheza revela-se na eficácia ideal da sua figuração: são representações surreais que se inscrevem numa realidade aceite, sem a bloquear, sem alterar a sua função, mas ajudando-a a sobressair, oferecendo-lhe um absoluto da sua forma, a ética e a estética da perfeição do cristal, a sua eternidade. A mesma fragilidade é a outra face da luz que emanam: contrariam as trevas e a duração, são apenas aparição.
Distribuir estes apontamentos de vidro pelo que já foi nomeado, indiciá-los como o inominado, exige o conhecimento do todo que se fez paisagem – essa paisagem que é o nosso entorno e a nossa habituação. Talvez por isso estas esculturas nos surjam como irrupções do fantástico ou do onírico, perturbando-nos e criando-nos instabilidade.
E essa é a sensação da estranheza, da epifania.

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Copyright.2009