Fotografia . André Cunha e Silva
A Singularidade do Múltiplo é um evento que decorre no âmbito do Interferências – Mostra Pública de Arte, organizado pela Associação Número Arte e Cultura em parceria com o Espaços do Desenho e desenvolvido em co-produção e residência artística com o Centro Português de Serigrafia, a Galeria Corrente d’Arte e o Metropolitano de Lisboa.
artistas convidados: Martinha Maia, Marta Wengorovius, Sara Yan, Susana Gaudêncio, Carlos Farinha e João Pedro Silva
Comissária: Teresa Carneiro
Comissária: Teresa Carneiro
Mostra de trabalhos nas carrugens do Metropolitano de Lisboa
Mostra de intervenções em ‘lugares perdidos’ nas estações do Metropolitano de Lisboa
Estação de Metro dos ANJOS (átrio norte)
Texto Crítico de Maria do Carmo Serén
Interferências
Se quisermos encontrar um ponto
comum, (esses traços pessoais que fazem um complexo ou um estilo) na instalação
daquele rio de papel de seda, nos Anjos, as séries de desenhos das
“Interferências” ou, se formos mais longe, as esculturas de vidro semeadas por
João Pedro Silva em terreno vivo, torna-se claro que o padrão director é a
expressão de uma tensão minuciosamente imprimida à matéria.
Trata-se, evidentemente, de
experimentações muito contemporâneas, num conceito de fazer agir, agindo, desarticulando
olhares, deslocando.
O rio de papel azul forte, pontuado
de roxo nos momentos de turbilhão maior , irrompe a partir de uma fonte
ocultada, corre sob uma rectângulo estreito de compressão para nós, ameaçando
galgar a janela que o suporta; o vidro força-lhe a direcção e navega, livre,
para lá dos espelhos mais reais que o mundo de Alice. Pequenas ondas picadas, trabalho laborioso no
papel ingrato, lembram o movimento caótico das águas quando envolvendo
obstáculos: repetem-se, invertidas nos espelhos, arrastando consigo os
labirintos de um existir simulado.
Interferências são círculos negros
concentracionários, metafórico Sol Invictus louvado a 25 de Dezembro: fonte de
atracção e repulsa, gera e repudia exércitos metálicos, vermes serpentiformes,
o céu azul de todos os horizontes ou as formas que a racionalidade sabe traçar
em afã de subordinação. O Sol negro absorve e expele, respira toda a matéria do
mundo. O processo decorre na nossa frente,
os efeitos são cicatrizes na nossa observação e nas serigrafias.
Apesar das mudanças de registo, das
variantes sempre apaziguadoras – o círculo, o rectângulo, o fragmento de recta
– o caos enquadrado das inscrições, tudo se abre numa violência armadilhada. E
é essa violência subliminar, segregada pelo círculo, que lhe retira a natural
dinâmica de círculo. Ele é o ponto fixo criador do turbilhão da destruição e do
nada. O que poderia ser, em qualquer caso, uma metáfora da artificialidade da
técnica e do duplo.
Maria do Carmo Serén, 16 Março, 2012
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